WE DON'T TALK ANYMORE - UMA HISTÓRIA

1 de mar. de 2017


Era uma vez duas meninas que eram melhores amigas. Elas se conheceram no curso de inglês quando tinham 13 anos e desde então nunca mais se separaram. Na verdade, elas eram tão grudadas que dividiam tudo: aulas, gostos, crushes, sonhos (as duas queriam cursar direito na faculdade), amigos e até o mesmo nome. Carolina.

Até que um dia, o impensável aconteceu e uma das Carolinas – vamos chamar aqui de Carol 2 – resolveu se mudar para os Estados Unidos. Tudo aconteceu tão rápido que nenhuma das duas conseguiu digerir direito a situação e quando viram, os encontros que eram diários passaram a ser apenas pelo MSN e pelo telefone. Isso aconteceu em dezembro de 2006, no dia seguinte a formatura da oitava série delas.

Levou um ano e meio até Carol 2 conseguir ir pro Brasil novamente matar a saudade de tudo e de todos. No primeiro dia, as "geminas" (como se chamavam), já estavam juntas novamente e passaram aquele mês de julho 90% na presença uma da outra. Foi com Carol 1, que Carol 2 tomou seu primeiro shot de cachaça quando ambas ainda eram menores de idade e foi também com ela que Carol 2 passou madrugadas se divertindo como não fazia há... bem... um ano e meio. Era como se, mesmo com a distância, nada tivesse mudado. 

Carol 2 voltou para os EUA em agosto e a rotina de mensagens pelo Orkut e pelo MSN continuou. Agora, Carol 1 estava no ensino médio começando a se estressar com a faculdade e Carol 2 tinha feito amigos na escola e não estava mais sozinha.



Dois anos se passaram até elas se encontrarem novamente. 

Por um lado, Carol 2 estava muito animada e feliz de finalmente ver Carol 1. Poxa, já havia tanto tempo desde a última vez que se viram. Ambas agora eram mulheres! Carol 1 deu continuidade ao sonho da faculdade de direito, enquanto Carol 2 estava indo para o último ano do ensino médio. Mas acompanhar essas mudanças no virtual, não é a mesma coisa que o real. Carol 2 sabia disso e não via a hora de ver essas mudanças de perto.

Carol 1 havia, de fato, mudado. Pra começar, estava loira. LOI-RA. Quando a viu pela primeira vez, não conseguia acreditar que aquela era a sua irmã. Depois de uns drinks (afinal, agora eram maiores de idade) com mais alguns amigos, Carol 2 percebeu que não foi só fisicamente que ela havia mudado. Agora, Carol 1 fumava e falava abertamente de drogas (uma coisa que sua xará sempre foi contra). Não era a mesma menina de dois anos atrás... mas tudo bem. O amor ainda estava lá, certo? Eram pequenas coisas que dava pra serem deixadas de lado.

Elas se encontraram mais vezes, dividiram histórias e fizeram novas memórias – como na vez em que Carol 2 provavelmente bebeu 8 doses de tequila e elas foram pra Lapa, apenas pra coitada vomitar tudo dentro do Circo Voador e elas irem de volta pra casa de Carol 1. Não aconteceu nada, mas foi divertido. Foi inusitado, diferente e a irmandade de sempre se fez vista e sentida.

Seis meses depois, Carol 2 voltou para o Brasil para poder ir na Boda de Ouro dos avós. Coincidentemente, elas estariam passando a virada no mesmo lugar de praia, cada uma em sua casa. Carol 2 tava acompanhada de uma outra melhor amiga e Carol 1 dos primos, mas mesmo assim a 1 foi visitar a 2, elas tiraram foto, conversaram e marcaram de se encontrarem depois. Mas, veja só, quando Carol 2 e a amiga bateram na porta da Carol 1 no horário em que tinham combinado, ela não estava mais lá – havia saído com os primos. "Ok, né" pensaram ambas as meninas enquanto andavam pela terra batida de volta pra casa. Um tempo depois, elas conversaram sobre o assunto e se acertaram mais uma vez.

Mesmo longe, elas estavam sempre perto

Mais seis meses se passaram até a visita de Carolina 2 ao Brasil, quando esta resolveu que voltaria a morar no país para poder cursar faculdade. É importante frisar aqui que Carol 2 não tem nenhuma memória sobre conversas ou momentos com a 1 desse tempo. Ela não sabe se simplesmente não aconteceu ou se não se lembra – ou os dois. A rotina de cursinho pré-vestibular tomou conta da vida da 2 e sempre tinha algum motivo para elas não se encontrarem. Carolina 2 começou a namorar um rapaz e mesmo assim, ainda nada.

A vida foi seguindo até um fatídico dia em maio de 2012 quando Carol 2 soube que teria que voltar para os EUA por um tempinho até começar a faculdade (ela havia pra turma de 2012.2). Carol 2 então tratou de montar uma despedida para poder dar um "até logo" para todos os amigos e pessoas queridas que ela não veria pelos próximos meses. Ela passou o dia todo conversando com o namorado sobre o assunto, ansiosa para ele finalmente conhecer seu grupo próximo de amigas, suas "irmãs", sua gemina.

Uma pessoa – uma amiga de infância que ela não falava havia anos – apareceu depois de duas horas sentada numa mesa reservada para umas 15 pessoas. A desculpa de Carol 1 (sua BFF) foi que o pai não havia deixado ela ir. Na hora, Carol 2 não quis saber: depois de chorar no ombro do boy por uns minutos, saiu deletando todo mundo do Facebook e ignorou todos os seus ~amigos~ que não foram. Carol 1 estava nesse grupo. E sim, a Carolina 2 é dramática (é canceriana, coitada).



Essa foi a última mensagem que trocaram.

Mas não a última vez que se viram.

Carolina 2 estava voltando do seu treino funcional no bairro em que mora quando elas se cruzaram. Fazia exatamente cinco anos desde a última vez que se falaram e pelo menos 6/7 anos desde quando se viram. Carol 2 sabia que isso poderia acontecer, afinal estão morando no mesmo bairro. Todo dia ao ir para o trabalho, ela passa pelo prédio de Carol 1 e pensa "A Carol mora aqui". Carol 1 estava de óculos escuro, roupa de praia e uma amiga ao lado. As duas andavam em direção opostas na mesma calçada e por um momento Carol 2 pensou em falar alguma coisa – perguntar se era ela mesma ou então como é que ela estava.

Mas alas, ambas continuaram seguindo seus caminhos.

Carol 1 talvez não tivesse reconhecido Carol 2 ou, se reconheceu, não imaginou que ela estaria ali cruzando seu caminho quando, na última vez que se falaram, a garota estava prestes a embarcar para os Estados Unidos. Carol 2 também poderia ter falado o oi que ficou entalado na garganta, mas do que adiantaria? Da última vez que fez isso com uma outra menina que também era uma de suas melhores amigas, a conversa terminou com um "Boa sorte na faculdade".

A verdade era que eram completas estranhas uma para a outra. Se algum dia dividiram histórias, essas histórias agora fazem parte de um passado que em breve será completamente esquecido. São fantasmas sem volta que servem apenas para mostrar que nem todas as pessoas que entram em nossas vidas ficam – e  que nem todo pra sempre dura uma vida inteira.

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