Era noite de um sábado e eu ia te ver.
Cinco anos depois de tudo ter começado, íamos por um ponto final na nossa
história. Ou reticências. Na verdade, nada disso importava. Eu ia te ver.
Eu esperei muito por isso, sabe? Foram
1,825 dias de sonhos feitos e desfeitos, de choros e sorrisos, de conversas por
telefone e por msn. Eu não era a mesma garotinha de 14 anos e você não era o
mesmo menino de 17, mas cada vez que nos falávamos, parecia que o tempo parava
e por um minuto voltávamos a ser quem éramos. Se eu fechasse bem os olhos,
parecia que estávamos juntos novamente.
Te encontrei na esquina da casa da minha
melhor amiga, me esperando encostado sob o seu carro novo. Quando você me viu,
deu um sorriso gigante e eu te dei dois beijinhos no rosto. Engraçado, pensei. Achei que estaria cheia de borboletas no estomago...
Tentávamos nos decidir sobre o que
faríamos enquanto dirigíamos sem rumo. Seu medo de alguém te encontrar comigo e
falar tudo para a sua namorada estava ali, escondido entre as sugestões
nervosas que dava. Não era certo com
ela, coitada, mas esperei tempo demais por isso e nenhuma culpa poderia tirar o
sorriso que eu tinha no rosto. Decidimos ir ao cinema ver qualquer coisa que
estivesse passando. Conversamos sobre a vida no caminho e não nos tocamos
durante o filme.
O filme acabou. Acho que me dei conta, bem
de leve, que a nossa história também tinha acabado, porém, não tinha forças
para admitir isso para mim mesma. Principalmente depois que você disse que
estar comigo te lembrava dos melhores momentos da sua vida. Como eu poderia
responder a isso? Entramos no carro e ficamos mudo até chegarmos na entrada do
meu prédio.
“Desculpa se você achou que algo ia
acontecer essa noite. Não quero te iludir.”
“Relaxa, não achei nada. Eu te conheço”
“Não, Camile. Você me conhecia.”
“Sei que você não faria isso com a
Marcela. Você não é homem dessas coisas e, honestamente, eu não sabia o que
esperar. Acho que agora podemos ser amigos, né?”
Ele riu. Saímos do carro e nos abraçamos. Nesse
momento começou a chuviscar de leve. Que
clichê, falei pra mim mesma. Ele começou a chorar e eu, embalada pelas suas
lágrimas molhando a minha blusa preferida e pela leve chuva, me entreguei
também. Nos separamos e seus lábios procuraram o meu. Cinco anos de dúvidas e
anseios respondidos em menos de cinco minutos. Fomos para o banco de trás do
carro.
“Não consigo. Foi mal.”
“Relaxa,” disse levemente frustrada. Já
estávamos sem roupa e ele para no meio do caminho? Quem faz isso?
“Você quer apagar essa noite da sua
cabeça?”
Pensei por um minuto. Não sabia quais
seriam as consequências dessa noite. Ele poderia ter se tocado que eu sou o
amor da vida dele, largar a namorada e voltar para mim ou poderíamos nos tornar
amigos e seguir com as nossas vidas. De qualquer maneira, havia esperado muito
tempo por essa noite; por essa confirmação dos nossos sentimentos. Isso não
poderia ter sido em vão.
“Não.”
Me deitei em seu colo e ficamos ali por
uns bons 15 minutos, até botarmos as nossas roupas de volta e sairmos do carro.
Ele me deixou na portaria e me deu um beijo na testa. Disse que me ligaria no
meu aniversário, na quarta. Respondi que ficaria no aguardo. Entrei no meu
prédio e me virei a tempo de ver ele pisando no acelerador e indo embora. Acho
que no fundo eu já sabia que aquela seria a última vez que o veria e por isso
deixei escapar uma lágrima dos meus olhos.
Alguns dias depois ele me mandou uma
mensagem no celular falando que aquilo tudo não passara de um desejo e que
nunca mais ia voltar a acontecer. Não chorei. Pelo contrário: a prepotência
dele de se achar tão importante fez com que eu risse da situação. Mandei uma
resposta mal-educada no Facebook dele e cortamos qualquer relação que tínhamos.
Botamos um ponto final na nossa história repleta de vírgulas e reticências. Hoje,
alguns anos depois, posso analisar bem a situação e ver que eu estava
completamente apaixonada pela ideia dele. O meu primeiro namorado; primeiro
amor; primeira paixão; primeira transa; primeiro “eu te amo”... Eu era
apaixonada por quem ele era aos 16 anos. O menino de 22 anos com quem eu estive
no carro era um estranho pra mim. E eu já sabia disso quando o vi, só não tinha
forças para acreditar nisso.
Minhas amigas me perguntaram se eu me
arrependi de algo. A resposta veio na hora: não. Se não fosse a prepotência
dele, poderia ainda estar apaixonada por uma idealização da minha cabeça. O
lobo mau disfarçado de príncipe finalmente mostrou as suas caras e a máscara
caiu e se quebrou. Sou grata a ele. Ele me fez evoluir como pessoa. Precisava
disso para poder evoluir nas minhas relações, sabe? Me libertar da ideia dele.
Hoje, seu fantasma não me aterroriza mais. Aliás, quero deixar aqui os meus
parabéns para ele e a Marcela pelo noivado. É honesto e de coração. Que sejam
felizes, porque eu com certeza já sou.
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