O REVOLUCIONÁRIO DO SUBÚRBIO E A PATRICINHA DO METRO

18 de out. de 2013


Ele. Estação Cinelândia. 13:30

Pedro entrou e procurou um lugar para sentar. Não estava cheio (algo inédito no metro sentido Pavuna) e por isso encontrou logo um, de frente para uma garota de longos cabelos castanhos e pele branquinha. Ficou encantado. Ela carregava sua bolsa sob seu colo e escutava música pelo celular. Parecia estar em um outro lugar e por um segundo ele queria poder ir com ela. Desviou o olhar quando a menina olhou para ele, e tirou do bolso da sua calça jeans rasgada um panfleto sobre a manifestação que teria mais tarde. Ele iria, claro! Não aguentava mais esse sistema capitalista cheio de porcos imundos explorando a sociedade e seus trabalhadores. Ele era do time de pessoas que queriam mudar o sistema. Passou a vida toda vendo os pais trabalharem até tarde da noite para poderem dar um bom sustento para ele e para a sua irmã, e nunca serem valorizados. Voltou a olhar para a menina que agora o encarava com uma expressão estranha. Seria medo? As pessoas costumavam falar que ele assustava de primeira, com seus cabelos loiros ondulados e bagunçados e sua barba grande. Resolveu que deveria tentar falar com a garota, mas como? Ela obviamente vinha de um mundo onde as coisas eram dadas, merecidamente ou não. Ele lutava exatamente contra esse mundo em que ela vivia. Nunca ia dar certo. 

Quando chegou na estação Maracanã, ela se levantou, sorriu para ele e foi embora.

Ela. Estação Cinelândia. 13:30

Catarina tirou o Iphone do bolso e botou The Smiths para tocar. Era aquela música, daquele filme, uma que ela não sabia a letra toda, mas que adorava cantarolar por aí. Nem percebeu quando um menino alto, loiro e barbudo entrou no mesmo vagão que ela e sentou na sua frente. Só foi percebe-lo, quando sentiu uns olhos verdes à observarem. Achou engraçado a maneira como ele desviou o olhar, pegando um panfleto que estava no bolso da calça jeans rasgada dele e fingindo que nem a tinha notado. O panfleto falava sobre uma manifestação que ela tinha lido na capa de um jornal quando estava a caminho da faculdade. Sentiu medo por ele. A violência da polícia militar do Rio estava dando o que falar e havia boatos de que os radicais estavam sendo torturados. Ele parecia ser um desses radicais. "Próxima estação, Maracanã. Desembarque pelo lado direito." Essa era a sua estação. Queria poder admirar mais o menino, poder tentar entende-lo... quem sabe até falar com ele? Mas eles pareciam ser de mundos separados. Distantes. Nunca ia dar certo.

Quando chegou na estação Maracanã, ela se levantou, sorriu para ele as palavras que nunca iria dizer e foi embora. 

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