18 de jul. de 2014

O por-do-sol da reflexão

Ontem, no final da tarde (tudo bem que já eram 20h da noite, mas o sol estava começando a se por só então. Noite pra mim é quando está escuro, então se ainda está sol, tecnicamente não é noite, né?), quando estava voltando do meu passeio de bicicleta por Burlingame, me dei conta de uma coisa: em alguns meses, eu não vou mais poder fazer isso. Não vai ter mais passeio de bike pela baía, vendo o sol californiano se por. Não vou mais poder reclamar do frio e da neblina insuportável de São Francisco que me impedem de ir a praia. Não vou mais poder reclamar que vou ter que sair do Brasil para poder morrer de tédio aqui. Não vou mais poder ver meus (poucos, porém verdadeiros) amigos. Tudo isso vai mudar e só agora a ficha caiu.

Eu nunca morri de amores por aqui. Quando cheguei em Burlingame, eu tinha 14 anos, estava realmente chateada por ter saído do Brasil (tudo bem que ninguém me obrigou a sair de lá, mas na época eu "precisava de mudanças"; ou seja, um namoro meu terminou e eu precisava não olhar pra tudo que me lembrava ele. Drama queen much?), não falava inglês muito bem e o meu relacionamento com a minha mãe era estranho e distante. Os meus primeiros meses aqui foram na fossa. Eu me apegava a tudo que me conectava com a minha vida brasileira. Passava horas no telefone com o meu melhor amigo, trocava milhões de mensagens no MSN com amigos (e com o tal ex) de lá e detestava cada segundo daqui - o que é ridículo, considerando que tem coisas aqui que me atraem SIM, por mais que eu queira me convencer que não. Isso durou uns três/quatro meses, até eu entrar na escola. Conheci pessoas novas, fiz amigos e fui me adaptando lentamente a esse lifestyle americano. 

Não me leve a mal. Eu ainda era completamente apegada ao Brasil. Não me permitia admitir para mim mesma que talvez eu gostasse da calmaria dessa cidade pequena (tão diferente da agitação de cidade grande do Rio), que ter vindo pra cá foi uma puta experiência pra mim etc. Achava que estava me traindo. Quando falavam no Brasil que eu estava ficando americanizada, eu negava de pés juntos. Só que a verdade era que eu estava ficando americanizada. Eu ia pra minha escola americana, ficava o dia todo com americanos, falava mais inglês do que português, lidava com as coisas que eles gostam constantemente.... Era impossível ser 100% brasileira. O que eu não sabia na época era que isso não era, necessariamente, uma coisa ruim. Eu só fui me dar conta disso ontem, às 20h30m, quando eu estava voltando pra casa de bicicleta, vendo o sol se por atrás do Aeroporto Internacional de São Francisco, quase oito anos depois de ter vindo pra cá pela primeira vez.

Eu sempre disse que o Brasil era o meu lar. Disse tanto que até tatuei, literalmente, isso em mim. Porém, uma pessoa com duas casas, constantemente dividida entre dois países, pode honestamente dizer que só tem um lar? Seria mais uma vez mentir pra mim mesma. Eu aproveitei os meus anos teens mais aqui, nos EUA, do que no Brasil. Fui moldada por essas duas culturas, querendo ou não. Isso não é algo ruim. Isso é único. Isso me faz ser única, entre tantas pessoas. Negar as minhas raízes americanas, é a mesma coisa que negar uma parte das minhas raízes brasileiras. O Brasil não é exclusivamente o meu lar; os Estados Unidos também são. Da mesma maneira que eu sempre vou ter o Rio de Janeiro como um porto seguro, eu também terei essa cidadezinha pequena e chata que eu aprendi a amar. Não queria ter que deixar ela pra trás, mas tenho certeza que ela nunca ficará esquecida dentro de mim. Ficará adormecida, como o Rio ficou durante um tempo.

Como diz o clichê que significa a minha tatuagem: home is where the heart is - seja aqui ou acolá.

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