SÓ SEI QUE NADA SEI

23 de out. de 2015

Meu tempo de inocente quando eu ainda nutria várias ilusões em relação a profissão

Eu amo jornalismo. Amo mesmo. Amo tanto que o primeiro post aqui no blog foi exatamente sobre isso. Mas olha, ultimamente tem sido difícil seguir querendo ser uma.

Tudo começou em junho deste ano quando a Editora Abril fechou um bando de revistas — inclusive a Capricho, favorita de muitas adolescentes — e, consequentemente, demitiu vários funcionários. Aí, dois meses depois, veio a notícia de que o jornal O Dia demitiu entre 30 a 40 jornalistas. No final do mesmo mês, a notícia de que o segundo jornal de maior circulação do país, O Globo, iria demitir ao menos 30 jornalistas — isso sem contar as demissões que rolaram no começo do ano. Aí, algumas semanas atrás, ficamos sabendo do afastamento de um dos criadores do Globo News (cujo nome me falha a memória no momento).

Em um dos grupos de jornalistas ao qual eu faço parte no Facebook, um menino veio falar que estava pensando em prestar vestibular para jornalismo e queria saber qual era o piso salarial da profissão. Confesso que achei a pergunta tola porque jurava que era do entendimento de todos que jornalista não é valorizado e ganha uma merreca. Aparentemente não. Bom, o que aconteceu é que choveu comentários de jornalistas (e ex-jornalistas e aspirantes a jornalistas) falando para ele desistir dessa profissão, que se tem algo que eles recomendam é ele fazer alguma coisa — qualquer outra coisa! — menos isso, que não é vida, que o maior arrependimento deles é ter feito isso... Como Facebook é Facebook e sempre rola uma treta, várias pessoas falaram que essas pessoas estavam desencorajando o menino, que eles não gostaram da vida de jornalista e agora estavam amargurados etc. Eu fiquei ali, na minha, só acompanhando a treta e lendo os pitacos de todos. 

Curiosamente, há algumas semanas atrás, um casal de jornalistas de São Paulo que estavam visitando D.C. a passeio foram ao restaurante o qual eu estou trabalhando e começamos a conversar. A mulher trabalhou por vários anos na Folha e estava hoje em dia no Valor Econômico. Seu marido era jornalista do Valor também. Perguntei a opinião sincera deles sobre essa crise que estava rolando no jornalismo. Disse que falava três línguas e meia e sempre me apoiei nisso como garantia de conseguir trabalho (o que eu sei que não é). Ele me disse que para as pessoas que estão saindo da faculdade agora, existe mercado; para os mais experientes, não. O porque é simples: as empresas não estão dispostas a pagarem o que os profissionais experientes merecem e se contentam em pagar uma mixaria aos novatos, que precisam de experiência e estão dispostos a topar tudo. 

Isso é um ciclo vicioso que só prova o quão desvalorizada a profissão está. Hoje em dia, qualquer pessoa pode ser considerada jornalista. Principalmente agora, que nem temos mais a obrigatoriedade do diploma, basta você criar um blog/um canal no youtube/um twitter que você também pode ser considerado parte dessa profissão. É simples e é algo barato para as empresas, que continuam obtendo estagiários recicláveis. Acabou o tempo de um? Sem problemas, só anunciarmos vagas que vão chover opções. 

O que isso significa para o jornalista com anos de experiência? Para o estudante de jornalismo? Para a profissão? Perguntas as quais eu não tenho resposta e que, honestamente, desanimam muito a pessoa que fica quatro anos (as vezes até mais) estudando uma arte para... nada. Tenho amigos que se formaram/vão se formar, mas não pensam mais em exercer. E por que deveriam? A profissão é ingrata, você se mata de trabalhar por horas para não ganhar nem R$ 3.000,00 por mês (o que não é nada hoje em dia), tem que por a profissão sempre em primeiro lugar, muitas vezes só consegue trabalhar se conhecer alguém e raramente é reconhecido por todo o esforço e suor.

Eu costumava achar que sempre haveria espaço para quem realmente tem vocação para a coisa, quem ama e está determinado a correr atrás do que quer. Do jeito que as coisas andam, eu só sei que nada sei.

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