2 de out. de 2014

Ela queria ir além. 

De segunda a sexta-feira ela passava sete horas do seu dia na faculdade de direito, algo que ela nunca quis. O resto do tempo ela passava trabalhando numa firma, no centro da cidade, vendo casos de clientes em que ela não acreditava e sendo assediada por um chefe que odiava.

Ela queria ir além.

Aos sábados e domingos, ficava acordada até tarde estudando a constituição. Quando saía, era com os falsos amigos que tinha. Ía para os lugares que eles queriam. Bebia até não se lembrar mais que sua suposta melhor amiga dava em cima do namorado dela, e que ele correspondia isso. Bebia até se esquecer que, quando saíssem da festa, seu namorado ia querer dormir com ela, a chamaria de um nome qualquer e ela fingiria que não ligaria para isso. Bebia até esquecer que ela, de fato, não se chamava "Belinha".

Ela queria ir além.

Era rica. Vinha de uma família de nome. A mãe era uma socialite e o pai um desembargador. Sempre teve tudo do bom e do melhor, mas mesmo assim ainda se sentia constantemente vazia. Estava constantemente cercada de pessoas que só queriam estar com ela pelo status. Não tinha ninguém que gostasse dela por ela. Algumas noites, chorava sozinha em seu imenso quarto branco. Chorava pela vida que poderia ter.

Ela queria ir além.

Um belo dia, ela acordou. Foi para a faculdade numa segunda-feira e nunca mais voltou. Trancou a matrícula. Pegou o dinheiro que tinha na conta do banco e comprou uma passagem de ida para Nova York. Cortou os longos cabelos loiros que tinha e tingiu eles de preto. Deixou o bronzeado ir embora. Conseguiu um emprego em uma lanchonete e um quarto no Brooklyn. Não tinha mais motorista particular; pelo contrário, agora ela ia para todos os lugares de bicicleta. Conheceu pessoas novas. Se apaixonou de verdade por alguém que não sabia quem ela era. Criou um novo nome, virou uma nova pessoa e deixou tudo para trás. Os pais ficaram loucos e a deserdaram. Ela não ligou. Estava morando em um quarto, tinha um gato laranja que se chamava Félix, um namorado mexicano, estava ilegal no país... mas pela primeira vez ela estava feliz.

Ela foi além.

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